Já encontrei
pessoas cujo sobrenome deveria ser Nihil (nada). Pessoas que se desencantaram e
desencantam os outros. Nada faz sentido para elas. Se sabem de algo desacreditam. Enquadram-se no
Niilismo. Estes sujeitos não encontram mais sentido para nada. Se você fala do
STF, elas discursam sobre a mesquinhez dos ministros. Sujeitos politizados, que
jogam para a torcida. Ministros perdidos e medíocres. Pior ainda seria o Congresso.
Qual o sentido dele, perguntam descrentes. Todo o político é ladrão, sem
vergonha e corrupto, pensam. Votar para quê? São todos iguais, nenhum se salva.
Estes neo-niilistas, nas alturas dos seus espíritos críticos, não veem sentido
em nada. O mundo social, para eles, é o espaço do caos egoístico. Os
sujeitos se acham intelectuais e passam seu tempo dizendo que nada vale, que
nada é o que parece ser, que as verdades não existem, que os valores são tolos
e falsos. Para eles, só é verdade que nada é. Só é verdade que a verdade há
muito deixou de existir.
Também encontro entre meus conhecidos, os que se acham filósofos. Uma
mistura de céticos com estoicos. São os que sofrem da apatia. Estes, estão
acima do mundo dos humanos. Olham as misérias do mundo e as desprezam. Ao lado
da taça de vinho e da mesa com alimentos, observam a realidade social desejando
nada observar. É como se fossem insensíveis como método. A política não merece
ser sequer comentada, segundo estes. As mazelas do dia a dia, não tem valor
algum para aquecer seus intelectos e fazê-los falar algo de interessante sobre
este tema. Percebem como virtude o afastamento do mundo. Não querem se sujar
com a discussão política, com a filiação a uma ideologia qualquer. Estão acima
do bem e do mal. Com ares de reis e rainhas observam a plebe a se contorcer nas
lutas contra as mazelas sociais. Estes senhores apáticos procuram a
ataraxia filosófica.
Outro grupo é uma espécie de Gandhi de barriga cheia. Estas pessoas
olham os problemas sociais e até sentem alguma empatia. Mas, como não são
violentos, ficam em casa ruminando seus pensamentos enquanto o tempo passa. Não
se movem, pois são da paz. Sabem que qualquer resistência contra os desmandos
da política, será coibida pela força. Então, ficam em casa a ver o tempo passar
evitando eventos violentos. E o tempo passa rápido. E estes filhos de Gandhi de
barriga cheia ficam velhos. Então se justificam: “Se eu fosse jovem eu lutaria
contra as injustiças sociais, mas sou um velho e nada mais posso fazer.” A
especialidade destes é ficar velho logo para nada mais poder fazer. A paz se
mantem para eles enquanto a guerra do dia a dia ceifa as vidas dos outros. Paz
para mim, guerra para os outros; em algo assim acreditam.
Há também os ativistas pré-fracassados. São pré-desistentes, São
videntes dos próprios destinos. São aqueles que esbravejam, socam a mesa
furiosos com a injustiças sociais. No barzinho com os amigos, entre copos de
cerveja bem gelada e salgadinhos apetitosos, vociferam contra as injustiças e
as desigualdades. Odeiam a priori os senhores do capital. Rejeitam as
injustiças e gritam impropérios contra os poderosos. Logo após discursos
inflamados, eles reconhecem que têm que trabalharem na segunda feira. Que nada há
para fazer. Que o mal venceu o bem. Que é melhor se associar aos vencedores
para não sofrerem a mesma violência que os desafortunados sofrem todo o dia. É
uma pré-desistência em defesa própria. Estes são perdedores antes da luta.
Melhor dizendo, perdem antes de desejarem a vitória.
Há também os que professam o ativismo. São pura energia. Andam à
esquerda ou à direita. Tanto faz. Se têm algum interesse, lutam por ele sem
contextualizar. São a-históricos. Agem sem bússola. O Norte sempre é o que
desejam naquele momento. Argumentam hoje assim, amanhã de outra forma.
Depende. Querem transformar o mundo a sua semelhança. São ativistas ao
sabor dos ventos. Pouco refletem. Apenas agem. São perigosos. Querem apenas o
êxito imediato, o sucesso temporário, pois seus desejos mudam a cada momento.
Os raros, bem raros, se regem de maneira similar ao provérbio: Si vis
pacem, para bellum. Nem sei se é possível identificar o autor. É um provérbio
que todos conhecem. Algo como “se queres a paz, prepara-te para a guerra” (ou
parecido com isso). A paz é para quem tem o poder de reagir e não reage
enquanto não é necessário. E se reage, tem limites éticos. É no sujeito
espiritualmente forte que se encontra as condições para a paz. Estes sujeitos
acreditam que nada vem de graça. Estes estão prontos para o confronto de ideias
e argumentos. Estão em movimento, não deixam as armas intelectuais
enferrujarem. Estão atentos e atilados. Não sabem se serão vitoriosos ou não,
mas não esperam que algo caia do céu. Quando necessário agem. Entram em
ação! Então são movimento e energia! Não agem sozinhos. Seus interesses têm
caráter social e agem de forma cooperada.
Eu pessoalmente, ao refletir sobre o que estou escrevendo, encontro em
mim, no mesmo dia, todas estas características que descrevi. Creio que sou
todos estes sujeitos descritos. Cometo cada um destes pecados sociais.
Entretanto, esforço-me diuturnamente para ser um transformador da sociedade.
Não quero ficar no meu apartamento esperando envelhecer sem nada fazer por uma
sociedade mais justa, igualitária e fraterna. Então digo para mim mesmo nos
momentos de fraqueza: Si vis pacem, para bellum
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É o q quero fazer. Revejo diuturnamente meu comportamento!
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