A sensação foi de abdução. Logo que cheguei fui
imediatamente abduzido para uma sala extremamente fria, muito iluminada e
habitada por uma falange de criaturas de branco. Assim que cheguei fui
crucificado sobre uma mesa estreita. Cada um dos indivíduos de branco tinha uma
missão específica. Uns ataram meus pulsos mantendo-me de braços abertos, como
Cristo. Outros furaram minhas mãos colocando caninhos flexíveis, dutos estranhos.
Dutos especiais que pareciam sugar meu sangue. Outros tantos ligaram aparelhos
enigmáticos a meu corpo. Fiquei atado firmemente por tecidos e fitas similares
a esparadrapo. Também fui rapidamente plugado a monitores fantasmagóricos.
Pouco falavam comigo. O frio e a angústia eram enervantes.
Em dado momento uma pessoa também de branco deu-me a fatal
sentença: “Vou injetar em ti algo que vai dar-te tonturas e sentir-te-ás
mal. Isso é normal nesta situação”. Sem ter como reagir, antes de poder
queixar-me o líquido foi injetado rasgando-me as veias, e de fato fiquei tonto
e enjoado. Para eles então, tudo ficou mais fácil. Comigo fora de combate,
atordoado quimicamente, voaram sobre mim cada vez mais me preparando. Alguns
minutos passaram. Retornou a figura exótica que me injetou a potente poção e,
novamente, sentenciou: “Agora vou introduzir em teu organismo uma química
forte, vais dormir imediatamente. Relaxa que logo vais acordar e tudo terá
terminado.” E assim foi. Nada pude fazer, não pude expressar nada. Creio
que sorri antes de dormir como um morto dormiria. Fui corajoso. Em nenhum
momento expressei meu medo. Heróis morrem amedrontados sem se importar com o
próprio medo. Meu atavismo gaúcho bradava dentro de mim: que venham as dores,
as mutilações e as torturas, não vou implorar por piedade.
Dizem que tudo é relativo. Que tudo depende do ponto de
vista. Os médicos e enfermeiros viam apenas um paciente com cólicas renais. Eu
via o que queria ver e juro, foi como eu descrevi. Contaram para todos que eu
tinha um cálculo renal. Na verdade, eu sei que foi uma conspiração. Colocaram
algum chip em mim, algum aparelho diabólico para saberem tudo que eu faço e
penso. Afirmo e torno público que não foi uma cirurgia! Foi uma abdução. Os
aliens vestiam-se como médicos, enfermeiros e técnicos. Nesse momento já
me sinto diferente. O DNA alienígena está provocando mutações em meu
corpo. Ninguém percebe. Nada posso fazer se só eu sei o que aconteceu. Poucos
acreditarão, eu sei.
Apesar de ser uma intervenção extraterrestre, preciso dizer
que fui bem atendido. Trataram-me com especial gentileza e rara dedicação.
Bastava acionar um mecanismo que produzia um som estridente, como uma
campainha, e as enfermeiras aliens surgiam e davam-me analgésicos de outro
mundo e a dor desaparecia. Era tão especial o carinho por
mim que, logo percebi, era claro que se sentiam culpados pela abdução
de um terráqueo tão indefeso. Fica aqui minha denúncia.
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