Todos nós já
usamos os emojis. Os jovens já nasceram usando, como numa língua paralela
àquela em que foram alfabetizados.
As pessoas
que ainda usam apenas a escrita alfanumérica como forma de comunicação usual,
estão desaparecendo. Seduzidos, “emojitificaram-se”.
Tenho um
amigo octogenário (excelente advogado!) que usa somente a máquina de escrever
para fazer suas petições. Não usa, nem nunca usou, emojis. Nem precisa.
Sua escrita é bela, densa e rica.
Nós já fomos seduzidos
pelos desenhos de carinhas. As caricaturas pequeninas são econômicas. Cada uma
delas é capaz de dispensar um enorme trabalho mental. Dispensam parágrafos
inteiros!
O que é um emoji?
É um pictograma, uma imagem, um desenhozinho gracioso que quer transmitir uma
ideia (simples ou complexa) ou uma frase inteira. É, portanto, uma
linguagem.
Resumindo, é um
símbolo que representa algo.
O
interessante é que com um toque na tela do celular e com uma figura, num segundo,
dizemos uma frase inteira com seu sujeito e predicado. A concordância
verbo-nominal vai para o espaço. Ganha-se tempo. Sem esquecer que aquela
figurinha sorrindo é universal: representa aproximadamente a mesma coisa em
qualquer lugar do mundo.
Eu,
particularmente, adoro emojis.
Entretanto,
palavras não são emojis. Palavras não são unívocas! Em cada contexto,
dizem coisas diferentes. O que quero dizer não é nada complexo. Apenas afirmo
que a palavra, por exemplo a palavra amor, apesar de ter lá na tela touch sua representação
gráfica (desenhozinho) predefinida, esta palavra não significa algo único. Não
é como o emoji de coração batendo que surge ao tocar na tela. Ele (o desenho) nos
ilude parecendo expressar o conceito de amor (como se houvesse um conceito
único). A figura pictográfica da palavra amor é uma fake News. A complexidade
do amor não pode ser representada totalmente por uma figura.
Agora imaginem a situação com a palavra comunismo!
Querem que ela seja um emoji de sentido único e universal! O mesmo
ocorre com a palavra gênero. A palavra feminismo, então, chega a ser
risível!! Elas não podem ser “emojitificadas”, pois significam muitas coisas.
Têm multissentidos.
A palavra
escrita não é um desenho com sentido pronto como é o emoji.
Emojis dizem muito com pouco. Justamente por
isto são pobres. Dizem muito por que repetem sempre um sentido já padronizado. Olha-se
a imagem e a representação pré-pronta vem à cabeça.
Podemos fazer
o seguinte exercício imaginativo. Cada leitor escolhe um emoji do seu
gosto e escreve o significado dele. Percebe-se
que é infinitamente mais difícil escrever sobre ele, do que tocá-lo na tela do
celular uma única vez. Creio que ficou claro que transformar figuras em
palavras é complexo.
Então, por
que seria fácil transformar o significado das palavras em coisa similar aos emojis,
ou seja, como coisas com sentido limitado, pré-configurado?
Agir como se
cada palavra significasse uma coisa só ou que significasse poucas coisas
(parecidas com um emoji), é o empobrecimento da linguagem. Cada palavra é um
mundo.
Não estou
sendo poético. Estou sendo realista. Escrever e entender o escrito é codificar/decodificar,
justificar, ampliar, idealizar e descrever.
Escrever é
plasmar com letras conceitos e ideias.
Portanto, não te arrisca em dizer – por exemplo - a palavra aborto como
se ela fosse um emoji. Ou seja, com significado único e universal,
independente de contextos.
Não acredita
que cada pessoa que lê o que foi escrito, verá (como nos desenhozinhos do
celular) um significado unívoco. Talvez
em um grupo fechado de pessoas onde cada palavra é entendida com um único
sentido, após muito tempo de treino (similar ao behaviorismo), se consiga uma
unidade de sentido. Qual o custo de tal proeza? A pobreza de linguagem. Onde prevalece
o sentido único, o pluralismo e a maravilha que é a capacidade de interpretação
de texto, vão embora.
Os pobres de
linguagem e os pobres ideológicos escrevem mal. Justificam quase nada do que
pensam. Para eles a comunicação é feita por emojis conceituais. Usam
poucas palavras (pois poucas se prestam a uma forçada “emojificação”). Somente
ideias rasas são compatíveis com o mundo emoji de ser e de pensar.
Levamos
milhares de anos para sairmos das cavernas onde escrevíamos com desenhos
(pinturas rupestres), na nossa pré-história. Eram figuras de animais e caçadores
com suas armas. Escreviam desenhando,
assim como escrevemos com emojis! Em tempo: a linguagem dos hominídeos era rudimentar.
A linguagem
atual é complexa. Mas tendemos a reduzi-la a chavões e a sentidos únicos. Estamos
voltando a estes tempos pictóricos dos pré-históricos?
Estamos cada
vez mais agressivos. Cada vez mais escrevemos “emojitificadamente”. Cada vez mais temos preconceitos
cristalizados. Cristalizados na cabeça, na fala e na escrita. Slogans
são os novos emojis/mantras falados. Basta dizê-los e entendemos tudo: da
pessoa que diz e do que a pessoa quer dizer.
Do antigo
“Brasil, ame-o ou deixe-o” ao “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”. Emojis
terrificantes! Grotescos. Bárbaros.
Triste Brasil
das ideias emojis. Das pessoas emojis. Estamos num tempo onde
acreditamos que gritar algo que todos já gritaram, é uma verdade. Nesta pobreza
intelectual e “emojistica” todos parecem saber o que é o comunismo, o que
é o feminismo, a questão de gênero e o caminho de Cuba. É “emojisticamente”
plausível gritar: Comunistas! Vão para Cuba!
Caso alguém
aceitar algumas dicas, posso dá-las. Observa
muito. Justifica tudo o que pensares. Reflete sobre cada verdade pronta. Pensa
o pensamento. E o principal: lê muito, muito, muito.
O ministério dos pensadores informa: Usa os emojis com moderação.