sábado, 17 de maio de 2025
sábado, 10 de maio de 2025
sexta-feira, 9 de maio de 2025
Triste Narciso, incansável buscador da atenção alheia.
Prof. Amilcar Bernardi
O mito grego de Narciso nos conta que um jovem se achava tão bonito,
mas tão bonito, que se apaixonou por si mesmo. Melhor dizendo, por sua imagem
refletida nas águas de um lago. A superfície fazia às vezes de espelho. Dizem as más línguas que ele morreu afogado,
jogando-se nos braços da sua imagem refletida no lago!
As pessoas são o lago onde o moço Narciso se vê. Ele precisa de público
na medida em que este o aplaude. Ele é o show (perfeito, claro!)
Evidentemente que esse mito fala da tragédia que é Narciso amar a si
mesmo, tendo como medida o amor das outras pessoas pela imagem dele. Se
formos como Narciso, só haverá garantia de que somos belos, se a outra pessoa
afirmar que somos. Podemos até imaginar que o moço Narciso só poderia se
relacionar com quem dissesse o que ele queria ouvir (como num eco). Portanto, era extremamente seletivo, relacionando-se
somente com quem o refletisse sem distorções (discordâncias). Se formos
Narcisos, seremos também seletivos em busca de bons refletores de nós mesmos.
Maus refletores de nada servem!
O jovem Narciso até a década de 1980 para ser feliz, precisaria de relativamente
poucas pessoas. A família e mais alguns amigos. Cercando-se destas pessoas
conseguiria convencê-las de sua beleza, podendo, portanto, ver-se refletido nos
elogios proferidos por elas. Falo em
beleza, mas poderíamos imaginar que ele se acha inteligente ao extremo ou
corajoso acima da média. Poderíamos elencar muitas qualidades sugeridas por ele para si mesmo. Qualidades para
serem confirmadas pelos outros (refletidas). Estas poucas pessoas poderiam deixar o rapaz
Narciso feliz. Seriam poucos espelhos para procurar seu reflexo. Portanto, mais
fácil do que se fossem muitas pessoas!
Seus esforços para convencer os outros a refletirem/ratificarem suas
qualidades, denuncia a dependência que o Narciso tem. Tanto maior o esforço,
tanto maior a dependência: o tamanho do esforço é do tamanho da dependência! Ele,
em relação a sua autonomia, está fatalmente ferido. O que ele faz tem que ser
reluzente para o outro ver. Tem que ser interessante para o outro se
interessar. O que o gentil Narciso faz genuinamente para si mesmo? Nada! Em um primeiro momento, parece que tudo que
ele faz é para seu próprio prazer vaidoso. Mas, percebamos, o que ele sempre
faz, faz sempre para as outras pessoas. Apenas as sobras dos olhos alheios, alguns
reflexos tão desejados, o satisfazem. Pobre criatura, pobre Narciso tão
dependente e frágil! Ele precisa viver na luz (sem sombras) para ser mais visto,
mais percebido e, por consequência, mais bem refletido, da forma mais nítida que for possível. Uma maldição!
E agora, no século XXI, o que pode nosso espetaculoso Narciso? Assim
como na obra Ensaio sobre a Cegueira do José Saramago, já há tantos flashs
que as luzes mais cegam que permitem reflexos em espelhos. A competição
narcísica está terrível. É muita gente com seus celulares aparecendo, buscando
reflexos/likes. A coisa é bem complexa. São inúmeras redes sociais e poucas pessoas
físicas, palpáveis, para convencer/refletir. Quero dizer que não vemos quem
está do outro lado do celular. São criaturas fantasmais, onipresentes,
insaciáveis de novidades. O retorno vem em likes e em visualizações. Na
verdade, o que percebemos são números. O sucesso é numérico. O espelho ou o
lago onde deve se refletir o esperançoso Narciso, são multiplicados por
milhares de celulares. Então, a missão de chamar a atenção e receber elogios, é
quase impossível. Trágico Narciso que vive para se ver no outro, sem sequer
saber quem é esse outro. Esse outro é invisível, é distante, é fantasmagórico e
extremamente infiel. Convencer a tantas pessoas virtuais, parece ser um caso
para Sísifo, eternamente condenado a empurrar uma pedra até o topo de uma
colina, sem poder impedir que ela role de volta. É uma missão impossível buscar
reflexos em tanta gente!
Pobre Narciso contemporâneo, está condenado a viver na esperança de ver
em plenitude seu próprio reflexo. Vã esperança, nunca verá a si mesmo, sempre
verá apenas o outro.
sábado, 3 de maio de 2025
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