A História como fatos vívidos num tempo que já passou, já não existe mais. Há vestígios, documentos, depoimentos e fragmentos. De certa forma, vivemos presos no presente pesquisando o passado para poder planejar o futuro. Portanto, somos eternos observadores ativos do passado. Na contemporaneidade, interpõe-se entre os fatos mais uma camada que pode impedir a visão clara do que foi e do que é. As redes sociais podem “nublar” nossa visão. Entretanto, também podem ser utilizadas a nosso favor quando nos conectam trazendo novas informações, tendo o potencial de irmanar internautas em busca da clareza e do conhecimento. Há quem utilize as redes sociais para criar “neblina” e confundir horizontes. Mas também há pesquisadores, jornalistas e até cidadãos comuns que fazem de tudo para bem utilizar esta tecnologia, ou seja, para melhorar as vivências cognitivas das pessoas. Cabe ao profissional da História, utilizar esta fantástica tecnologia, dominando-a e pondo este saber a favor dos estudantes. Caso o professor não entre neste campo de batalha virtual, deixará seus pupilos sozinhos, numa batalha desigual no mundo virtual.
Os humanos produzem história inexoravelmente, só por existirem. Mas, o
historiador se esforça tecnicamente para organizar os fatos, dar sentido a
eles, fazer com que todos tenham acesso a este fazer humano diuturno e de
produção inexorável. O historiador conectando-se, simplificando seus saberes e
compreensões para ser entendido, aliado às redes, estará ajudando a sociedade.
Ajudando a sociedade a compreender seus contextos e a compreender-se como
enredada num mundo complexo, historicamente não linear.
O trabalho do historiador não pode mais resumir-se ao âmbito das salas
de aulas ou dos espaços acadêmicos físicos. Afinal, se de um lado precisamos
ampliar as oportunidades de trabalho para este profissional, por outro lado, as
universidades e os locais típicos para o estudo, já não comportam o tamanho e a
complexidade da sociedade. Portanto, as redes sociais de acesso amplo, como
projeto de futuro, poderiam ser uma gigante sala de aula. Um enorme lugar virtual
para pensar os contextos históricos que nos impelem a agir como agimos. As
redes fatualmente já existem com seu bem e com o seu mal. Dominá-las e fazer
com que ajam a favor da sociedade é mais um desafio. Também é um desafio
acadêmico.
Tenho um canal no YouTube (@prof.amilcarbernardi). Esta experiência me
fez perceber as vantagens das redes. A linguagem é mais ágil, é crítica, ajuda
a (re)interpetar os eventos. Mais que livros e simples leitura, quem apresenta
o conteúdo, apresenta-se também, ou seja, mostra empolgação, humaniza o saber,
engaja, energiza quem o assiste. Impõe movimento à reflexão, interliga os fatos
e os torna mais inteligíveis, mesmo a quem não esteja por ofício interessado.
Por outro lado, há perigos. A vida virtual é espelho da vida real,
física, humana, sensorial. Ou seja: se há embustes na vida diária, haverá na
vida virtual. Podemos ser vítimas ou vitimar alguém. Afinal, podemos informar
algo equivocamente sendo vítimas de nós mesmos, envaidecidos com nossos
saberes. Há as pessoas de má fé, buscando sensacionalismo, vivendo disso.
Também há bandidos pelos caminhos virtuais, assaltando os caminheiros
“internéticos” com notícias falsas em proveito próprio. O professor de história,
ou todos os profissionais que querem divulgar o saber, devem primeiro acautelarem-se
e, posteriormente, ensinar os estudantes a acautelarem-se.
É preciso cuidar dos iniciantes. Eles podem se perder ou cair em
armadilhas. No mundo virtual há tanta informação que é possível não saber mais
distinguir a falsa da cientificamente testada. Relembrando: em todos os
caminhos há bandoleiros violentos em busca de vítimas descuidadas.
As redes sociais tem também a característica de questionar, pela sua simples
existência, os conceitos de “verdade”, mas, principalmente, o conceito de ensinar
e de aprender.
As plurilinguagem das redes, as contradições inevitáveis dos
pensamentos, a energia on-line dos profissionais conectados (um testemunho do
que acreditam) são elementos fundamentais para uma visão crítica e renovada do ensinar/aprender/
socializar o conhecimento da História. Brigar com as tecnologias e com o
desapreço pela leitura dos jovens, não “fazem” História; mas usar a tecnologia a
nosso favor fará toda a diferença.
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