terça-feira, 24 de dezembro de 2019

Cavalão X Profeta Gentileza (Comentário ao artigo do Prof. Valdo Barcelos - Jornal Diário de Santa Maria 24/12/2019)




Quem lembra do Profeta gentileza? O nome dele era José Datrino (1917 – 1996). Ele pregava pelas ruas do Rio de Janeiro. Sua crença? A gentileza. Sempre com palavras doces e cheias de amor nos lábios; nas mãos, flores. Em função de acontecimentos traumáticos em sua vida, passou a propagar ideias sobre amor ao próximo. Dizia: “Gentileza gera gentileza”. Simples assim. Alguns achavam que era um louco qualquer, outros, acreditavam ser um poeta das ruas.

Há muito, muito poucos profetas desta ordem. Creio que há mais (falsos) profetas falando de ódios, infernos, perseguições e grosserias. Entre vendilhões do templo e grosseiros profissionais, temos uma sociedade adoentada e violenta. Para reverter este quadro, quantos “Gentilezas” precisaremos?

A gentileza é um comportamento que vem pela aprendizagem. Notadamente pelo exemplo. A amabilidade, a nobreza, a urbanidade é um princípio civilizatório a muito custo adquirido. Basta pensar que este princípio se contrapõe ao caminho mais fácil, que é o da descortesia, da grosseria e da estupidez.  É mais fácil ser antissocial que gentil, é mais fácil agredir que ser empático. O Profeta Gentileza sabia disso e se dedicou ao magistério da amabilidade. Escolheu, portanto, o caminho mais difícil. E tanto o era, que foi taxado de louco. Mais razoável é ser estúpido que gentil – todos acreditam. Cabe apontar que os menos inteligentes na nossa espécie, adoram os caminhos mais fáceis. São como água que escorre por declives mais favoráveis, sempre.

Optar pela gentileza e civilidade é bem complexo. Exige esforço, hábito e empatia. É quase como fazer as águas subirem um morro. Dá trabalho, mas é possível. Entretanto, poucos sabem realizar esta obra de engenharia hidráulica.

O presidente Bolsonaro não conhece o Profeta Gentileza. Afinal, vive de impropérios, exala grosserias e mau humor. Sua estupidez flui pelos declives do poder, do puxa-saquismo e do servilismo. É grosseiro porque pode sê-lo e quer sê-lo. No ambiente melífluo e tóxico do poder, este senhor grosseiro prospera. Em seu entorno, o presidente ogro plantou seus iguais e vive na sombra destes.  Não há inteligência emocional neste governo agressivo e mal-educado.

Vou abrir meu voto para a eleição presidencial seguinte: votarei no Profeta Gentileza.  Bem, como não será possível, ao menos ficarei atento a quem for gentil, amoroso e fraterno. A barbárie só se mantém enquanto existirem bárbaros pra mantê-la.






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Poder e violência. Coisas distintas.