domingo, 2 de setembro de 2012

O caso da aluna Isadora


Prof. Amilcar Bernardi 

Eu sei que o diálogo é o melhor caminho. Os monólogos são uma insanidade, pois não há neles a abertura para o outro. Pior é quando o monólogo arregimenta milhares de pessoas. Se alguém é criticado desta forma, é bastante provável que será linchado. Os grandes meios de comunicação usam várias vezes esta estratégia infame.  A mídia fala utilizando um monólogo que, não raro, destrói muitas pessoas.

A aluna Isadora Faber enquadra-se nesta situação. Ela usou a mídia virtual para criticar sua escola e seus professores. A adolescente fotografou os problemas e emitiu opinião sobre o que acontece por lá.  Rapidamente internautas se aliaram à aluna. A imprensa noticiou o fato e a escola virou notícia. Evidentemente críticas criam audiência, ainda mais por ser de uma menina e por um meio tão moderno: o monologo nas redes sociais. Houve mudanças para melhor na escola. Porém, insisto no peso do monólogo porque, o colégio e os professores não podem fazer o mesmo. Quero dizer, tirar fotos dos alunos e dos problemas que eles trazem. Não podem registrar os pais dos alunos que vem diariamente à direção agredindo. Muito menos podem registrar o que os políticos fazem contra ela. Qualquer tentativa de reação do colégio pelo mesmo tipo de mídia será mal entendida. Então será novamente soterrado em críticas. Se esta Instituição de Ensino errar por um milímetro, será acusada de impedir a livre manifestação de uma adolescente. Concluo que não haverá diálogo. Pelo menos um diálogo público, no mesmo nível midiático da aluna.

Não acuso a Isadora de montar uma estratégia ardilosa. Nem digo que não deveria ter agido assim. Digo apenas que os professores e a direção foram enredados de tal forma que apanharão quietos. Talvez uma escola particular tenha uma equipe com jornalistas que sabem o que fazer num caso destes. Com certeza não é o caso desta instituição que, sabemos, é publica. Também sabemos que o real dirigente desta escola é um secretário de educação. Um cargo político. Portanto, está preso à opinião publica. Justo esta opinião mutável e mutante foi cooptada pela aluna. Penso que não há o que fazer. A escola está julgada e condenada.

Insisto: a aluna tem o direito inegável de se manifestar. Porém, a escola sempre estará cerceada nesse mesmo direito, pois ela foi criada para ensinar e não para defender-se nas redes sociais.

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Para quem não tempo para aprender

          Prof. Amilcar Bernardi

A palavra apreender* é um enigma para mim. Por mais que pense sobre o conceito, parece que sempre algo fica de fora. Apenas percebo que pessoas são X, entram em contato com coisas que não tinham consciência antes, então se tornam X+Y. É uma questão ontológica: eram algo, agora são algo mais alguma coisa. Não que sejam coisas somadas, mais parecem um suco onde muitas coisas se misturam e viram outra coisa, geralmente bem mais gostosa que as partes separadamente. Penso que a aprendizagem acontece quando fazemos suco intelectual das coisas que se apresentam aos sentidos. Puxa, não estou sendo nada científico, mas faz tempo que o ideal de cientificidade foi abandonado por mim. Gosto mais de sucos gostosos.

Na sala dos professores observo falas que afirmam: aos alunos do ano tal, falta base. Com certeza no ano anterior ou o colega não deu o conteúdo, ou o aluno não aprendeu. Pensando assim, criamos a mais pura lógica: se não aprendeu ontem, se hoje sem base ele não aprende, com certeza amanhã não aprenderá! Como eu não entendo muito de aprendizagem, questiono: qual o tempo para apreender isto ou aquilo? Sempre o ontem determina o que o aluno pode apreender hoje?

Na minha ignorância, penso que apreender não tem tempo passado ou futuro. Apreender é sempre para hoje. Não importa o ontem, o que importa é o que hoje o aluno sabe e o que agora ainda não sabe! Em relação a aprendizagem, o ontem serve apenas como a história do aprendente, que é útil para entendermos como devemos agir com ele hoje, sempre hoje. A ligação com os objetos, mesmo os abstratos, em relação ao apreender acontece nesse momento. Estamos plugados, on-line com a relação eu e o que pretendo incorporar à minha consciência. Mesmo quando aluno apreende a conjugar o verbo no futuro, a conjugação acontece agora!

Ora, se o aprendente não apreendeu algo ontem, o que importa? Hoje sempre é o tempo atualíssimo para ele saber o que ainda não sabe!

A “falta de base” do aluno é meramente a sua história. Ela apenas indica o que o educador deve fazer nesse momento: o aluno é sempre atual.  Desde que o ontem não signifique alguma lesão neurológica ou trauma psicológico impeditivo, é apenas história. A “falta de base” não justifica a não aprendizagem. Ela não impede nada, apenas insinua, inspira o educador a como agir agora, a como facilitar a incorporação sempre atual do que o aluno ainda não incorporou à sua consciência. As aprendizagens anteriores, só são “anteriores” na lógica inventada pelas pessoas, pois se houve aprendizagem ontem, ela ainda esta “aprendida” hoje. Sempre acontece agora! Se há esquecimento, não está disponível agora a aprendizagem de “ontem”, então não houve aprendizagem.

Apreender é um suco que está sendo feito e bebido a cada segundo. É um suco que não segue a lógica temporal. Apreender é algo que se faz e se consome sem que haja distância temporal entre o fazer e o consumir. 

* Faço a distinção entre aprender e apreender. Apreender significa apropriar-se de uma informação em sua complexidade. Após apreender não mais podemos esquecer.





Figura retirada do blog: http://cartasdepaulotarso.blogspot.com.br/2010/01/aprender-e-ensinar.html

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Einstein e Heráclito não podem ser professores hoje.

Prof. Amilcar Bernardi

Os entendidos em educação há bastante tempo estão alertando os educadores que tudo está em mudança. Afirmam que a ciência cada vez mais produz cataclismos no nosso jeito de ver o mundo. Einsten “deu nos dedos” do Newton dizendo que tudo é relativo. A velocidade da máquina de escrever é impensável para as pessoas do século XXI, assim como o pensar religioso monolítico dos tempos medievais, desapareceu sob o ponto de vista das inúmeras religiões de hoje. Os tempos hodiernos estão mais para Heráclito, que partia do princípio de que tudo é movimento, e que nada pode permanecer estático, do que para os dogmas inquestionáveis.

Nesse contexto heraclítico os valores são questionáveis e mutáveis, as leis oscilam entre abrandamentos e recrudescimentos, as famílias são agrupamentos de pessoaas sem conceito definitivo, a política um jogo onde a única coisa que não se questiona é o desejo de poder. Nas escolas o termo “ensinar” sugere tempos passados. Hoje o professor é um mediador , um incentivador do aprender. A própria palavra aprender, sofre também desgaste, pois hoje aprender significa tanta coisa que as definições são múltiplas.  “Acreditar” não é mais possível, pois acreditar em que, se rapidamente o que era possível de fé já mudou?

Os jeitos de fazer educação estão  lançados nos ares seguindo dois princípios; o do Einsten (tudo é relativo) e o do Heráclito (tudo muda, menos a lei que diz que tudo muda). Também eu, motivado por estes princípios, não posso dizer que o pensamento contemporâneo está errado ou é ruim, nem que é bom ou que é melhor. Sem padrões não posso opniar, ou opino temporariamente. Nunca Sartre esteve tão certo quanto agora, quando afirmou na sua juventude que somos totalmente livres. Claro que sujeitos totalmente livres, na mesma proporção, são totalmente responsáveis pelo que escolhem, pois não sofrem limite algum ao optar.

Já que tudo muda, escrevo este texto ouvindo meu coração. Espero que também ele não mude até eu terminar este escrito/desabafo. Meu argumento “cardíaco” baseia-se nas angústias do meu dia a dia como educador. Meu intelecto maravilha-se com a liberdade nunca antes sentida. Rejubila-se com as teorias libertárias sobre o mundo da informação  cambiante, dos espaços fluidos e das relatividades morais. Porém a dor “cardíaca” surge no dia a dia, quando o professor é conclamado a renegar tal mobilidade. Tudo é real e estático demais quando o educador é chamado a responsabilidade pelo seu fazer em sala de aula, responsabilidade irrecusável e intransferível.

Fico imaginando onde está a  mudança e a fluidez contemporânea, quando o professor tem que responder as seguintes e complexas questões: o aluno reprovou ou não? Jorginho colou ou não? Quando Pedrinho caiu, tu estavas com ele ou não? Meu filho aprendeu ou não a tabuada? Bater porque foi agredido antes, é certo ou errado? O Onofre rodou ou não nos exames da OAB? Mário morreu na mesa de cirurgia, o médico aprendeu ou não a técnica? Fulano matou aula, a escola sabia ou não? Se sabia, foi incompetente? Se não sabia, foi omissa? Os cadernos de chamada foram entregues ou não nas datas determinadas? E por aí vai.

Penso que Einstein e Heráclito não podem lecionar. Na escola nada é relativo, tudo é “sim” ou “não”. E se assim não for, quem - de fato - vai ensinar que nem tudo é relativo?