segunda-feira, 30 de abril de 2018

Credibilidade e confiança: inseparáveis.







A confiança tem a ver com a estabilidade. O sujeito na sua história pessoal, sempre agiu da mesma forma. Presumivelmente, amanhã e depois agirá da mesma maneira.  A história da pessoa ou de uma instituição, conferem razoabilidade. Por consequência, propiciam a esperança de que as mudanças (se houver) serão ponderadas, processuais e previsíveis.  As autoridades públicas, notadamente as do judiciário, devem ser assim: previsíveis em suas condutas. Mais do que a mulher de Cezar, devem ser e aparentar ser. Duas faces da mesma moeda: ser e aparentar ser. A confiança vem com a experiência. O tempo faz com que eu confie. É um namoro, uma amizade delicada. Não basta apenas obter a confiança, mas mantê-la. Um deslize, uma mentira, uma oscilação e pronto, a confiança se fragiliza. Minha mãe dizia (e diz): é como um prato, quando quebra, mesmo colado, fica a rachadura.



A credibilidade me lembra ter crédito: ter disponível para meu uso um valor maior do que eu de fato possuo. A pessoa agiu sempre de tal forma, que acumulou confiança. Pode até gastar um tanto a mais, pois tem crédito moral, tem bastante ainda em depósito. Então, quando alguém diz algo depreciativo em relação a quem tem credibilidade, o ouvinte logo diz: “Não acredito. O fulano nunca foi assim. Mesmo que haja fortes indícios, não creio!” A pessoa que tem credibilidade, tem sempre o benefício da dúvida a seu favor. In dubio pro credibilidade!



Os dois parágrafos anteriores justificam a união ética entre confiança e credibilidade.  Em ambos os casos, a história no tempo da pessoa ou da instituição, induzem às demais pessoas a esperarem uma conduta mais ou menos linear: quem foi “do bem” até hoje, é esperável que amanhã também o seja. Mesmo que as verdades fáticas oscilem, mesmo que as ciências descubram a cada momento coisas novas desmentindo verdades; a crença pessoal na importância da conduta ética dá certa previsibilidade às ações futuras. 

Por consequência, o descompromisso com a reflexão ética, resulta num comportamento errante. Agir de forma egoísta, de acordo com a conveniência do momento, não cria uma história pessoal confiável. Da mesma forma, a instituição pública que age de acordo com os ventos da política eventual não enseja confiança.  Nada nos faz mais moralmente previsíveis do que o repensar contínuo sobre a ética.  Aristóteles, de um lado afirmava, que o bom hábito nos faria propensos a sermos bons. Por outro lado, Kant nos alertava que o que importa é agir de forma que nosso agir possa ser um agir universalizável.



O que os dois filósofos tinham em comum? A preocupação constante com a reflexão sobre o certo e o errado. E fico feliz em saber que a história nos conta que ambos, sempre e sempre, foram virtuosos e previsíveis em seu desejo de serem corretos.



Credibilidade e confiança: irmãos. Penso que apesar da realidade demonstrar fartamente que nos equivocamos amiúde, só seremos dignos da credibilidade e da confiança quando buscarmos ter certeza que procuramos fazer o correto. E não uma vez ou duas. Mas, como disse antes, que a história da nossa vida ou das instituições públicas seja a vontade de fazer o correto... mesmo que não saibamos exatamente o que seja.

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