terça-feira, 8 de maio de 2012

O funk é feminista?

                       Prof. Amilcar bernardi 

Acabei de ler um artigo intitulado “O funk é feminista”, na revista Superinteressante (Maio de 2012, edição 304). Como diz o título, o funk seria feminista porque brada pela liberdade sexual das mulheres, além de quebrar o padrão de beleza socialmente admirado nos dias de hoje, mulheres magras e loiras. Após ler o texto da Profa Doutora Carla Rodrigues, confesso, fiquei a pensar sobre o assunto.

O Funk é um movimento musical, porém, como bem mostra o texto, tem preponderantemente um conteúdo sexual explícito.  Fico mentalizando todas as imagens que veem à minha imaginação sobre esse tema. Claro que imagens marcadas pela mídia. Na minha mente aparecem sempre mulheres dançando/rebolando com roupas mínimas. É provável que eu esteja falando uma coisa óbvia, pois o funk e mulheres desejáveis são inseparáveis. Puxo da minha memória midiática as letras das músicas apresentadas por este movimento. Percebo que também estas composições falam da sensualidade da mulher, dos desejos sexuais consumados e, na grande maioria das vezes, a rima é pobre, o palavreado é rude, também não é incomum palavrões. Pelo menos é o que vejo, leio e ouço através das mídias, notadamente as televisivas. E não tenho culpa de não querer comprar Cds desta natureza e estar minimamente conectado à TV. Quem se expõe a esta ou aquela mídia, fez uma opção e não pode reclamar de ser percebido através da mídia escolhida.

Se eu fosse mulher, odiaria o texto opinativo da revista Superinteressante. Como homem, odeio igualmente. O funk não é feminista, é um ultraje à mulher. Aproximar o ideal libertário feminino de um viés apenas, o sexual, é minimizar a questão e empobrecê-la. Este tipo de movimento não é uma expressão política das mulheres. É sim o resultado de uma política, uma política excludente de uma grande parcela da sociedade brasileira.  Se o ritmo funk expressasse uma mudança qualitativa ampla, aí sim, seria algo a ser respeitado. Porém, dizer que a expressão no funk do desejo sexual através de imagens e letras caricaturais do universo da mulher, é uma das expressões do feminismo, é uma bobagem.  O feminismo é muito maior que este tipo de liberdade. Tão maior que o funk desaparece (se apequena) no contexto da luta da mulher para ser protagonista da sua história.

As moças funkeiras são vítimas da exclusão escolar, da exploração sexual e vendem seu produto “artístico” notadamente para os homens. Excluídas de outras vivências culturais usam seu corpo, o sexo e seu vocabulário (qualitativamente e quantitativamente empobrecido) na ilusão de que provocarão mudanças. Sonham em mudarem não a sociedade, mas suas vidas através do dinheiro dos seus shows. O que até é possível. Porém, o preço a pagar é a manutenção de inúmeras outras mulheres na condição de excluídas de uma vida escolarizada, menos sexualizada e de salários mais dignos. O funk não é, nem nunca será, uma expressão de um ideal feminista.

4 comentários:

  1. concordo plenamente, o funk tem uma batida dançante e existe o funk com letra de conteúdo, haja vista, James Brow, Fernanda Abreu, Seu Jorge, Fun'n lata, mas essa versão do funk carioca referenciando a promiscuidade realmente não me representa

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  2. Amiga Lívia

    Obrigado pela contribuição! Abraços fortes!

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  3. Não. Quero dizer que sim, texto bem colocado. Não. Feminismo não é isso, de maneira nenhuma. Não acredito que mais de 1% das funqueiras tenham qualquer idéia que se assemelhe a feminismo. Pobres incultas e manipuladas pelo meio.
    Feminismo é o que faz António Guterres, português, Secretário Geral das Nações Unidas, por exemplo. Vocês imaginariam o feminista António cercado de funqueiras dançando?
    Não.
    Mas cercado de meninas africanas em uma escola, estudando, ou em ciranda entre meninos e meninas felizes, brincando, dançando, pesquisando, desenvolvendo habilidades mentais e físicas, crescendo como todo ser humano deve crescer em todos os sentidos... SIM.

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Poder e violência. Coisas distintas.